quarta-feira, 8 de abril de 2009

Entrevista com Jihad Khodr, o fundamentalista do surfe


PERFIL

Nome: Jihad khodr Chiah.
Idade: 22.
Tempo de Surfe: 14 Anos.
Patrocínio: Quiksilver, Canfield, Oakley e Shopping Omar.
Melhores trips: Indonésia 2006.
Melhores resultados: Campeão do REEF CLASSIC WQS 2004, Campeão SUPER SURF MARESIAS 2006.
Local de treinos: Matinhos.
Melhor Manobra: Aéreo.
Surfistas preferidos: Kelly Slater, Neco Padaratz.

Jihad Khodr Chiah. Não, ele não é um fundamentalista muçulmano. Mas dentro d´água, detona. "Ondas pra direita, esse é meu ponto forte. A galera que compete comigo sabe que se deixar uma e eu não estiver em combinação, já era".

O paranaense de 22 anos venceu a última etapa do SuperSurfe em uma final emocionante, na qual bateu o bicampeão brasileiro Leonardo Neves.Jihad está na boca do WCT, sendo o segundo reserva na lista da elite mundial, ocupando a 47ª posição no ranking do WQS.

Sua linha de surfe, moldada nas direitas de Matinhos (PR), é sua principal arma na luta pela consolidação entre os tops mundiais. Ele acredita que não vai ter problemas em se adaptar aos critérios dos juízes do Tour.

Sua primeira aparição na elite aconteceu em Bells Beach, durante a segunda etapa do WCT 2006 em que terminou na 33ª posição. Na entrevista abaixo Khodr fala de religião, o sonho de ser campeão brasileiro, desempenho dos brasileiros no WCT, entre outros assuntos. Vale o drop!

Gerson Filho - Você quase entrou no WCT em 2005, e esse ano está correndo atrás pelo WQS. Como você planejou o ano de 2006 em termos de competição?

Jihad Khodr
- Cara, foi complicado. Se eu tivesse entrado ia me concentrar muito só no WCT; correria as etapas do WQS por segurança. Se eu fosse o primeiro reserva também ia fazer isso. Mas como segundo reserva abri mão do WCT para tentar buscar um sonho que é ser campeão brasileiro. Então tô correndo as principais do WQS e tudo que der do SuperSurfe. Quando o calendário permitir e eu for convidado, corro também o WCT. Quero mostrar para eles que tenho nível para ser um dos tops.

GF - Você acredita que a sua linha de surfe está no nível da exigida pelos juízes do WCT, ou acha que vai ter que se adaptar aos critérios?

Jihad Khodr - Quem se classifica pro WCT precisa começar quase que do zero. Tem que praticamente se mudar para a Austrália; surfar muito, só em ondas boas. Também pretendo encomendar pranchas gringas para juntar com o meu quíver. Vou ter que dar um jeito de ir para cada etapa sempre o mais cedo possível para ir treinando, conhecendo os picos e surfando com os caras. Preciso evoluir meu surf em ondas grandes e esquerdas. Pra direita acho que me garanto em qualquer etapa do CT. Só não deu em Bell´s por quê era minha estréia e eu ainda tomei um susto. Tava treinando na Indonésia e fui chamado em cima da hora. Cheguei um dia antes da minha bateria. Foi f...

GF - Como foi vencer a última etapa do SuperSurfe, em cima do Léo Neves?

Jihad Khodr - Eu venci um campeonato profissional pela primeira vez em 2002, no meu primeiro ano como profissional. Depois fiquei buscando muito essa segunda vitória. Já tinha um terceiro no ano passado e um vice este ano. Sabia que podia vencer. O Léo é muito meu amigo. A gente viaja junto e me amarro no estilo de surf e de vida dele. Então acho que por isso não foi uma bateria daquelas que neguinho fica te marcando do início ao fim. Ele foi fazer o surf dele e eu o meu. Quando veio a onda que eu estava esperando, dei o meu melhor e consegui virar. Sabia que podia vencer era só vir a onda! Tô amarradão.

GF - Você chegou em Maresias sentindo que ia mandar bem?

Jihad Khodr
- Maresias é um lugar que eu gosto muito. Já tive altos resultados como amador, depois no profissional, mas nunca tinha vencido. No sábado eu peguei um tubo no freesurf que os juízes viram e ficaram bolados. Isso me deu confiança. Não sei se cheguei pensando que dava pra vencer, mas eu sempre penso que se o mar me der condição posso vencer qualquer um. Fico triste quando perco pro mar.

GF - O que você acha da atual representação brasileira no WCT?

Jihad Khodr
- Acho que muitos ainda sofrem com a falta de grana, de estrutura; até de nome e expressão. É um lance que parece aquela parada do ovo e da galinha: o que vem antes? O cara precisa fazer seu nome para ser respeitado, mas pra fazer o nome tem quer ter resultado.

GF
- Você acha que os brasileiros são injustiçados pelos juízes?

Jihad Khodr
- Não acho que isso rola com os brasileiros. Pode rolar com todo mundo.

GF - Entrando no WCT, qual será sua maior dificuldade?

Jihad Khodr - Quem me dera ter pelo menos um ano garantido pelo WCT sem ter que se preocupar com o WQS. Assim, dava para viajar menos, treinar mais, investir em equipamentos e estrutura. Mas complica quando você começa o ano mal e aí tem que correr uns trinta campeonatos dando conta dos dois circuitos e ainda se manter entre os tops.

GF
- Como foi o episódio no aeroporto em que encrencaram com o seu nome? Isso ainda acontece? (Jihad foi barrado ao entrar nos EUA devido ao seu nome de origem muçulmana que quer dizer Guerra Santa)

Jihad Khodr - Foi só uma vez quando agente vacilou e tava sem grana. Ao invés de ir para Los Angeles direto, usei minhas milhas para ir via Washington. Então imagina: fazia menos de 1 ano do 11 de setembro. Chega um cara de nome Jihad, muçulmano, carregando um sacolão de pranchas, é mais bomba né? Ainda por cima na capital dos caras... foi punk mas deu tudo certo. Até hoje foi minha melhor participação no US Open. Ganhei do Rob Machado duas vezes!

GF - Você é muçulmano praticante?

Jihad Khodr - Minha família é bem praticante. Quando eu era criança rezava junto com eles, lia o Alcorão e tudo. Mas com o tempo, passeia a viajar muito e não deu mais para acompanhar.

GF
- Qual o ponto forte e o ponto fraco do seu surfe?

Jihad Khodr - Ondas pra direita, esse é meu ponto forte. A galera que compete comigo sabe que se deixar uma e eu não estiver em combinação, já era. Quebro mesmo! Nasci em Matinhos, uma onda que ensina qualquer um a surfar pra direita. Meu ponto fraco são as ondas mais fortes, maiores e tubulares pra esquerda. Falta esse tipo de onda no Brasil e com tantos campeonatos pra disputar não sobra tempo e grana pra ficar treinando nas esquerdas.

GF
- Que tamanho de prancha você tem usado no dia-a-dia?

Jihad Khodr
- 5´10, 5´11 e 6´0 - minhas Canfield que são mágicas.

GF
- Quais surfistas influenciaram sua linha de surfe?

Jihad Khodr
- Não gosto muito deste lance de ídolos, influências e tal. Quando eu era moleque gostava de ver o Taj (Burrow) nos filmes e depois ia pra água tentar fazer igual. O Peterson me ensinou muito a ser guerreiro, então talvez seja um pouco de cada.

editor: Gerson Filho