domingo, 5 de agosto de 2012

SURF DE SKATE MORMAII



Verdadeiro 'Duke': há 100 anos, ouro dos 100m mudava a história do surfe


Duke Kahanamoku (Foto: Getty Images)


Por Gabriele Lomba
Direto de Londres
Foi há 100 anos, em Estocolmo, na Suécia. Acostumado a nadar nas águas salgadas de Honolulu, ele tinha menos de um ano de treino em piscinas e se aventurava pela primeira vez em Olimpíadas. Após uma ida e uma volta, completou os 100 metros em 1m03s4. Uma medalha de ouro que daria início à história de um outro esporte. O campeão olímpico era Duke Kahanamoku. Depois daquele e de outros dois ouros e duas pratas, em três edições dos Jogos, o havaiano fez de suas glórias olímpicas vitrine para seu arquipélago e mostrou ao mundo o até então menosprezado surfe.
O tempo naquela final não chega perto dos 47s52 de Nathan Adrian, ouro em Londres. Nas semis, o 1m02s4 era o recorde olímpico. Duke virou celebridade, amigo das celebridades. Viajou o mundo fazendo exibições de natação e surfe. Morreu aos 77 anos, em 1968. Hoje, uma enorme estátua dele recebe os turistas na badalada praia de Waikiki.
Duke herdou o nome do pai, Duke Halapu Kahanamoku, batizado assim em homenagem ao príncipe Alfred, duque de Edimburgo, que visitou o Havaí no ano de 1869. O pequeno Duke nasceu em 1890. Aos 20, um treinador o viu nadando na baía de Honolulu e o convenceu: era um talento, tinha de competir.
No verão havaiano de 1911, Duke nadou 100 jardas em 55s4, quatro segundos e seis centésimos mais veloz que o recordista mundial, o bicampeão olímpico Charles M. Daniels. Nas 50, igualou marca de Daniels: 24s2.


A notícia dos resultados correu os Estados Unidos e chegou a Nova York. Poucos acreditavam. Faziam piadas com o tamanho de seus grandes pés. Apesar de cinco árbitros oficiais terem cronometrado a façanha, e a distância ter sido medida quatro vezes, o recorde nunca foi reconhecido pela União das Associações Atléticas. Alegavam que Duke teve um empurrãozinho da corrente na baía de Honolulu.
Duke não se importou. Voltou a surfar e a treinar. O clube em que nadava, o Hui Nalu, fez uma campanha para arrecadar dinheiro e mandá-lo ao continente no ano seguinte. Lá, deslumbrava os fãs com técnicas de natação que aprendera dois anos antes, com australianos que tinham visitado o Havaí. Só tinha uma dificuldade: se acostumar à água gelada.


Duke disputou a seletiva olímpica em maio de 1912, na Filadélfia. Venceu os 100 metros livre em 60 segundos. Nos 200m, prova que não era sua especialidade, quebrou o recorde mundial, que pertencia a Daniels, com 2m40s0.


A caminho das Olimpíadas, em Estocolmo, conheceu, no navio, um outro americano de origem indígena: Jimmy Thorpe, um dos melhores atletas de seu tempo. E perguntou: "Vejo você correr, saltar, arremessar coisas e carregar bola. Por que não nada também? Jimmy, que viria a conquistar ouro no pentatlo e no decatlo, respondeu: "Deixo isso para você".


Jimmy e Duke impressionaram tanto os suecos que receberam suas medalhas e grinaldas olímpicas das mãos do Rei Gustaf v. Em 1965, aos 75 anos, Duke relembrou aquele momento.


- Eu era um garoto tolo quando o rei me deu essa medalha. Nem sabia direito o que era e quase joguei fora. Mas hoje é meu troféu mais valioso - conta, em uma biografia.


Ao retornar ao Havaí, Duke era uma celebridade. Competiu em outras três Olimpíadas e ganhou cinco medalhas. Poderia ter ido a mais uma e aumentado sua coleção: em 1916 não houve Jogos. Guerra Mundial.
Quando se aposentou das piscinas, aos 42 anos, tentou arrumar empregos "normais". Não se adaptou. Passou, então, a aceitar convites para fazer exibições de natação fora do país. Adorava viajar. Virou estrela de cinema, lançou grife de surfwear, foi nomeado "Embaixador do Havaí e do Surfe".


- Duke levava os artistas para surfar na década de 20, foi o responsável pela popularização do surfe. É o pai do surfe - conta Rico de Souza.
Medalhas de Duke Kahanamoku em Olimpíadas
Duke  Kahanamoku (Foto: Getty Images)
1912 - Estocolmo - 100m livre - ouro
1912 - Estocolmo - 4 x 200m livre - prata
1920 - Antuérpia - 100m livre - ouro
1920 - Antuérpia - 4 x 200m livre - ouro
1924 - Paris - 100m livre - prata