domingo, 21 de dezembro de 2014

Aos 20 anos, Medina iguala o primeiro recorde de Kelly Slater

Gabriel Medina é carregado e cercado por centenas de brasileiros na praia de Pipeline, no Havaí.
Aos 20 anos, o jovem igualou o recorde de Slater de surfista mais novo a conquistar um título mundial, com a mesma idade que o americano tinha quando levantou o primeiro de seus 11 canecos. Quando foi coroado nas areias de Pipeline, ele deixou de ser o ''Biel'' da mãe, o ídolo dos irmãos e o orgulho do padrasto, o seu segundo pai. O surfista passou a ser o Gabriel Medina de todo o Brasil, que parou para torcer e mandar mensagens nas últimas semanas. A praia de Pipeline foi tomada por centenas de brasileiros em um espetáculo nunca antes visto. As areias se coloriram de verde e amarelo, com bandeiras e cartazes. E os gritos de torcida como no futebol foram ecoados em um clima de comoção e lágrimas, digno de um dia histórico. 

 Após uma contagem regressiva em português em pleno Havaí, paródias clássicas como "Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor", "O Pipeline é nosso a-ha, u-hull", e "Uh, sai do chão, o Medina é campeão" fizeram a praia tremer como em uma final de Copa do Mundo. 

- A praia estava lotada, eu nunca tive uma torcida assim no Havaí. Foi irado ver tantos brasileiros aqui. Essa corrente não me deixou com pressão, pelo contrário, isso só me trouxe motivação. Sei que agora terei uma responsabilidade muito grande, mas isso é bom. Foi incrível hoje.

Gabriel Medina torna-se o primeiro brasileiro campeão mundial de surfe

Pela primeira vez um brasileiro tornou-se campeão mundial de surfe: Gabriel Medina, de 20 anos de idade. A conquista foi nas ondas mais tradicionais do mundo, em Pipeline, no Havaí.

Conquistar um título mundial no Havaí é o auge da carreira de qualquer surfista. Quando isso acontece aos 20 anos, é porque um talento raro apareceu no esporte. “O Gabriel, com quatro anos, já não queria ajuda e já ficava em pé. A gente ficava impressionado”, conta Simone Medina, mãe de Gabriel. Em Maresias, no litoral norte de São Paulo, é onde o filho mais velho de Simone nasceu.

A prancha sempre foi o brinquedo favorito de Gabriel Medina, mas o menino começou a encarar aquele objeto de um jeito diferente aos nove anos, quando a família ganhou um reforço. “O Gabriel começou a me chamar de pai, né, então, na hora que ele falou ‘Pai’, eu disse ‘Nossa, que legal, ganhei um filho’”, lembra Charles Rodrigues, pai e treinador de Gabriel Medina. Padrasto não é um título à altura da relação entre Charles Rodrigues e Gabriel Medina. Esse ex-tri-atleta uniu o gosto pelo surfe ao amor pela nova família, virou pai do dia para a noite e insistiu em treinar aquele menino como gente grande. 

“Foi eu e ele, em uma cidade pequena, uma praia pequena, onde a gente foi colhendo informações e tentando estudar o surfe, tentando ver o que seria melhor para o Gabriel, que era muito talentoso. Então, quer dizer, não teve influência muito de outras pessoas, a gente não deu muito ouvido para os outros e acabou dando certo”, conta Charles Rodrigues. Nos últimos dez anos, os dois viajaram o mundo juntos. Gabriel foi campeão mundial juvenil. “Junior”, conseguiu uma vaga na divisão de elite do surfe aos 17 anos de idade, em 2011, quando ele conquistou a primeira de cinco etapas de vitória no circuito, mais do que qualquer outro brasileiro já fez. 

Só neste ano Gabriel conquistou três campeonatos. Um deles na perigosa onda de Teahupoo, no Taiti, contra Kelly Slater, dono de 11 títulos mundiais. “Ele tem esse negócio, esse instinto competitivo que é natural dele já, e essa calma também, que ele empregava. Juntando isso que ele, na bateria, consegue raciocinar e fazer o melhor dele. E ele não tem medo”, descreve Charles Rodrigues, padrasto de Gabriel Medina. Medina vai completar 21 anos no dia 22 de dezembro.

Neste ano, no berço do surfe mundial, ele conquistou o melhor dos presentes de aniversário. Gabriel também antecipou em alguns dias o Natal de milhões de surfistas brasileiros. “Esse título vai pertencer a todo brasileiro que se movimentou para que o surfe pudesse ter um espaço de mídia, como está tendo agora, para que pudesse ser respeitado pelas pessoas como um esporte decente, um esporte que dá futuro para muita gente, que faz dar orgulho para um país inteiro. Porque a gente sabe o fenômeno que está se lançando aí”, diz o surfista Teco Padaratz. 

Um fenômeno de popularidade, próximo de 1 milhão de seguidores nas redes sociais, capaz de mobilizar torcedores para os pontos mais remotos do planeta, principalmente por não deixar tanto o sucesso subir a cabeça. “Eu acho que isso é conseqüência do que ele se tornou no meio disso tudo, porque ele continua um cara simples, humilde e gente boa”, afirma a mãe de Medina, que tem uma vida inteira pela frente para inspirar outros talentos.