domingo, 12 de fevereiro de 2012

Surf Jamaica


Segurando entre os dedos um baseado já queimado pela metade, mas ainda num tamanho considerável, Antony Wilmot, conhecido como Billy Mystic, aproximou-se do reporter da Trip. – Estávamos a poucos metros do mar jamaicano, em Bull Bay, onde a figura de longos dreadlocks – grisalhos devido às cinco décadas de vida – mora e mantém o Jamnesia Surf Club. Em silêncio, Billy saca o isqueiro, acende seu baseado e dá uma tragada longa. Sem soltar a fumaça, peito estufado, vira e diz: “E então, o que você quer saber sobre os surfistas rastafáris?”. Na pequena mas crescente cena local, Billy é ícone de um grupo de surfistas que se destaca por mesclar dois estilos de vida, o dos rastafáris, quase religioso, e o dos surfistas, esse velho conhecido.


Esta incrivel reportagem da Trip foi até lá acompanhar três profissionais brasileiros que viajaram dispostos a descobrir como são as ondas da ilha. Acabou deparando com uma cena única, sob a bênção de Jah. “O fato de o surf ser algo ligado à natureza faz com que ele se assemelhe à cultura rasta”, diz Billy. E completa: “Uma pequena parte dos rastafáris jamaicanos surfa, mas boa parte dos surfistas é rasta”. Sua família é exemplo disso. Seus cinco filhos ostentam dreadlocks e exploram os picos que a Jamaica oferece. Tudo sem atropelo, já que o surf no país não é popular, apesar das ondas quebrando no sudeste da ilha.
Pelos cálculos de Billy, hoje na Jamaica há menos de 200 surfistas, profissionais ou não. Mulheres, não chega a dez. A número um do ranking, aliás, é sua filha Imani Wilmot, 18 anos, que é rasta, não fuma e ensina o esporte a crianças. “Temos quatro ou cinco nos campeonatos, e no máximo 10 surfando em toda a ilha. Às vezes fico mais de um mês sem ver outra surfista”, conta. A realidade contrasta com a idade do surf por lá. Billy entrou no mar pela primeira vez com uma prancha debaixo do braço no início dos anos 70. Dava para contar nos dedos quantos se arriscavam no mar, era a primeira geração de surfistas locais, ainda se acostumando com a vida depois da independência conquistada diante da Inglaterra na década anterior. A situação ficou assim até Billy fundar a Associação de Surf da Jamaica, em 1999, e ver o esporte começar a crescer. Para o mundo, contudo, o país ainda é apenas a terra do reggae, da maconha e dos rastafáris.

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